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  • Foto do escritorMuseu MUCAI

BLOCO 2/P2- Itan: o universo encantado das narrativas iorubás

Atualizado: 9 de jun. de 2018

Período: 17/06 a 23/06/2018


Itan, palavra iorubá, utilizada no singular e no plural. Itan significa história.

O Desejo de Gadamu (Ruy Póvoas)



Um homem chamado Gadamu nasceu e se criou em Aldeia Velha. Desde novinho, ele vivia insatisfeito com tudo que era da sua terra. Jurava, todos os dias, ir embora para Aldeia Grande, a terra das novidades, onde pudesse aprender muitas coisas para ser uma pessoa importante. O seu sonho era vencer na vida e viver conforme ele entendia. Por isso, ele não dava muita importância à sabedoria e ao conhecimento de seu povo. Para ele, tudo aquilo era muito limitado e, ali, ele jamais seria um vencedor. Quando os viajantes passavam pela Aldeia Velha e davam notícias de Aldeia Grande, Gadamu ficava amuado e zangado com todo mundo. Mas Gadamu também sofria muito, pois amava seus parentes e seus amigos. Seu coração doía, quando ele pensava em deixar tudo e ir embora para longe. Um dia, Gadamu criou coragem e partiu. Apenas se despediu dos mais íntimos e muitas das suas coisas ficaram abandonadas porque, para ele, eram coisas sem serventia. De tempos em tempos, passavam viajantes por Aldeia Velha e informavam: - Gadamu mandou dizer que não esquece de todos e que um dia vai voltar, mas ainda está lutando para alcançar o que deseja. Passou muito tempo. Um dia, Gadamu voltou. Agora ele era um homem sabido, com muitos cestos e baús repletos de muita novidade. Considerava-se um grande vitorioso na vida. Mas Gadamu foi tomado de muitas surpresas: os avós e os pais dele não existiam mais. As irmãs tinham se casado com homens de outras aldeias e foram embora com seus maridos. Ele não conhecia mais os rapazes que tinham nascido depois de sua partida. E os jovens de seu tempo agora não sabiam mais o que conversar com ele. As velhas casas não existiam mais e os antigos animais de estimação há muito tempo tinham desaparecido. Os cachorros estranhavam Gadamu e não queriam saber de seus afagos. O terreno baldio, atrás de sua casa, agora era uma mata e a grande gameleira-branca tinha sido queimada por um raio. Aí, Gadamu se deu conta de que sua amada Aldeia Velha não existia mais e a família, que era o seu maior tesouro, tinha se acabado. Pensou em voltar para Aldeia Grande, mas concluiu que também não tinha fincado raízes por lá. Afinal, ele tinha labutado o tempo todo em Aldeia Grande, para ficar sabido, garantir o futuro e voltar. Agora ele não sabia o que fazer com tudo o que tinha aprendido, porque ele não tinha mais quem sustentasse seus sentimentos. E Gadamu ficou como exemplo: Quem pensa apenas em si, mesmo coberto de glória, não tem com quem dividir.


Fonte: PÓVOAS, Ruy do Carmo. Itan de Boca a Ouvido. Ilhéus: UESC, 2004.


Atividade 02: O meu desejo é...

Você se identificou com a história de Gadamu?

No final do itan, verificamos que o bem mais valioso que Gadamu possuía era a família e os amigos.

E quanto a você, qual o seu bem mais precioso? Utilize o campo de comentários para produzir um breve relato. A produção é livre!


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